29 Jan. 2025
Estratégias nutricionais para otimizar a fertilidade após os 40

Diana Piçarra Fernandes, Nutricionista
A fertilidade após os 40 anos pode ser desafiadora para muitos casais devido às mudanças naturais que ocorrem ao longo do tempo.
Nas mulheres, a diminuição da reserva e qualidade dos oócitos diminui a probabilidade de engravidar, bem como aumenta o risco
de complicações gestacionais como hipertensão, diabetes gestacional e aborto espontâneo. Nos homens, a idade também pode impactar a qualidade do esperma, reduzindo a motilidade e aumentando o risco de alterações genéticas nos espermatozóides.
Além disso, ambos podem enfrentar maior probabilidade de condições de saúde crónicas que interferem na fertilidade. Apesar dessa situação, existem estratégias como acompanhamento médico especializado, ajustes no estilo de vida e, quando necessário, tratamentos de fertilidade, que podem ajudar a superar esses obstáculos e aumentar a probabilidade de uma conceção bem-sucedida.
Sabe-se que o Índice de Massa Corporal (IMC) muito baixo ou elevado pode ser um fator causal na saúde reprodutiva feminina, associando-se a ciclos anovulatórios, amenorreia e menor probabilidade de implantação embrionária. De qualquer forma, o planeamento do período pré-concecional deve considerar um mínimo de 3 meses, de modo a otimizar a qualidade dos gâmetas, uma vez que é esse o tempo necessário à sua formação.
Quanto às causas de infertilidade feminina apontam-se as seguintes:
- Alterações hormonais (45%) como baixa reserva ovariana, síndrome dos ovários policísticos (SOP), hiperprolactinemia, tireopatias e obesidade, entre outras.
- Alterações anatómicas (35%) como malformações uterinas, miomas, entre outros.
- Já a endometriose contabiliza 15% e os fatores imunológicos/genéticos e infertilidade sem causa aparente correspondem aos restantes 5%.
- A alimentação desempenha um papel importante na fertilidade, nessa medida surgiu a “Fertility Diet”, adaptada da dieta mediterrânica, como o padrão alimentar mais recomendado, que se destaca pela riqueza em antioxidantes.
Neste padrão alimentar é promovido o consumo de hortofrutícolas de origem biológica ou sazonal e local, cereais integrais ou semi-integrais, carnes de corte magro, peixes de pequeno porte, leguminosas, azeite, sementes (linhaça, chia) e frutos oleaginosos. Por outro, lado importa evitar/reduzir carnes vermelhas, alimentos ultraprocessados ricos em açúcar e gorduras trans, bebidas com cafeína e bebidas alcoólicas.
Em processos de fertilidade, os nutrientes mais apontados na melhoria de qualidade dos ovócitos são N-Acetil-Cisteína, L-arginina, Vitamina E, Mio-inositol, Vitamina C, Vitamina D, Cálcio, ácidos gordos polinsaturados, Ómega-3, ácido fólico e a melatonina.
Particularizando sobre a relevância de alguns destes nutrientes:
- O ácido fólico, na sua forma ativa (metilfolato), é essencial na maturação e qualidade ovocitária, especialmente em tratamentos de fertilidade.
- A Vitamina B12 e D são cruciais na melhoria da qualidade do oócito e reserva ovariana, uma vez que a deficiência em vitamina D poderá prejudicar quer a ovulação, quer a implantação embrionária. De realçar ainda que na Fertilização in Vitro, valores analíticos de vitamina D inferiores 30 ng/ml se associam a menores taxas de fecundação.
- O ómega-3 impacta diretamente a maturação ovocitária e implantação embrionária. Importa ainda salientar que a suplementação com o ácido ecosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA) podem mesmo duplicar a hipótese de conceção.
- A coenzima Q10, para além de reduzir o stresse oxidativo, é também indicada em casos de baixa reserva ovariana.
- Por último, a L-carnitina, NAC e Vitamina E podem otimizar a qualidade ovocitária e espessura endometrial.
Relativamente à infertilidade masculina, as causas podem ser pré-testiculares, testiculares, pós-testiculares ou sem causa aparente. Tal como na saúde reprodutiva feminina, as intervenções dietéticas devem considerar um período de 60-90 dias, sendo este o tempo necessário para a maturação espermática. Neste sentido, ter um estilo de vida saudável desempenha um papel crucial, influenciando a espermatogénese e a qualidade dos espermatozóides.
Atualmente, sabe-se que uma dieta rica em gorduras saturadas e trans promove a acumulação de toxinas lipossolúveis nos testículos, prejudicando a produção de espermatozoides e de testosterona. Por outro lado, é essencial privilegiar o consumo de alimentos ricos em minerais como o cálcio, cobre, manganês, magnésio, zinco e selénio, dado que contribuem para a espermatogénese, motilidade e função espermática.
Adicionalmente, destaca-se a importância de:
• Manter um peso adequado, adotar uma dieta mediterrânica, aumentando o consumo de hortofrutícolas e reduzir o consumo de carnes processadas, açúcares e bebidas alcoólicas.
• Limitar as bebidas com cafeína e bebidas açucaradas ou com adoçantes artificiais.
• Consumir frutos oleaginosos, pois apresentam alguns benefícios, quanto ao número de espermatozoides e redução da fragmentação do DNA espermático.
• Preferir peixes de pequeno porte e peixes gordos, uma vez que beneficiam tanto a morfologia, como a contagem de espermatozoides.
Quanto à suplementação nutricional poderá ser necessário considerar pelo menos a suplementação em:
• Zinco, que participa diretamente na espermatogénese, auxiliando na concentração e motilidade.
• L-Carnitina, que, para além da função antioxidante, apresenta também efeitos antiapoptóticos, revelando-se importante na melhoria de parâmetros espermáticos como a motilidade e fragmentação do DNA espermático.
• Co-Enzima Q10, que apresenta benefícios na motilidade e número de espermatozoides.
• Selénio, que auxilia na motilidade, morfologia e concentração espermática.
• Ómega-3, por ser crucial na integridade da membrana lipídica dos espermatozoides, tal como na sua motilidade, contagem e concentração, morfologia e também reduz a fragmentação do DNA espermático.
É, assim, fundamental adotar um estilo de vida saudável para melhorar a fertilidade do casal, uma vez que aumenta a probabilidade de uma gravidez de sucesso, especialmente após os 40 anos e em casos de reprodução medicamente assistida.
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