Infertilidade – a dor que destrói o coração

Luzia e Tiago Maia

Passado alguns anos de uma grande e verdadeira batalha contra a infertilidade, eu e o meu marido resolvemos pedir ajuda aos meios de comunicação social para divulgar a nossa história e, assim, podermos ajudar outros casais e também conseguir alguma luz que nos guiasse neste caminho árduo.

Posso começar por caracterizar a cegonha como um pássaro de grande porte, livre, de grande imprevisibilidade e migrante. Isto tudo quer dizer que nunca estão num lugar certo, nem onde por vezes querem que elas estejam. Eu pensei que seria rápido, que a cegonha iria fazer ninho na minha barriga. Mas afinal deparei-me com uma cegonha sem GPS, pois nunca mais chegava e quando chegou trazia no seu embrulho paciência, tristeza e desilusão.

Um namoro perfeito, realmente vivia num verdadeiro conto de fadas, onde nunca escondi ao meu namorado que tinha o sonho de casar grávida. Nós pensávamos que seria só pensar e a cegonha chegava com o nosso bebé… Mas aí, começámos a ver que realmente o mundo não era assim tão cor-de-rosa.

Em 2012, um ano passado de estarmos juntos, começámos por ir a uma consulta de genética no Hospital de Santa Maria para ser acompanhada, dado ser portadora de Distrofia Miotónica de Steinert(1). Fomos também informados de que não havia precauções que pudéssemos tomar para que o nosso bebé não tivesse a doença e que apenas quando ficasse grávida poderia ser feito o diagnóstico pré-natal através da amniocentese ou da biopsia das vilosidades coriónicas.

Com todos estes processos e de mais alguns exames nem nos demos conta que a infertilidade já tinha entrado nas nossas vidas sem pedir licença, já estava bem acomodada e já fazia parte da família.

Passado dois anos ainda nada tinha acontecido. Exames e mais exames e explicação não havia, mas o que era certo é que a cegonha não chegava, a maldita cegonha não tinha GPS. Até que no dia 20 de janeiro de 2015 chegou a nossa tão esperada cegonha. Ai que felicidade! Mas quando reparamos bem essa cegonha era diferente das outras, só trazia embrulho, lá dentro não existia bebé. Essa cegonha trouxe uma gravidez gemelar anembrionária que nos fez sofrer muito. E desde aí nunca mais tivemos a visita da nossa amiga cegonha.

Passado tudo isso, nesse mesmo ano casámos. O nosso amor tornou-se mais forte e com todas as nossas forças continuámos o nosso caminho. O médico de família encaminhou-nos para o apoio à fertilidade em Castelo Branco. Exames e mais exames e nada tinha explicação, simplesmente não acontecia. Passado um ano de estimulação da ovulação passámos para as inseminações intrauterinas. Mais uma luz se acendeu, fizemos quatro apenas para confirmar que a cegonha tinha mesmo perdido o GP,S pois nunca nos visitou.

Perante toda esta situação sofremos muito, odiámos as palavras “infertilidade inexplicável” porque sem qualquer razão ela roubou o nosso maior sonho. Fomos ao fundo, chorámos, gritámos e mais uma vez ficámos de coração partido. Até que o médico nos chamou para nos informar que o nosso processo iria para Coimbra para que não sofrêssemos mais e pudéssemos fazer Fertilização in Vitro. Ficamos de novo muito felizes, mas com medo da demora da lista se espera. Até tudo correu bem demais e fomos então a consulta a Coimbra a 20 de dezembro de 2018. A doutora pediu mais uns exames e marcou nova consulta para março de 2019. Lá fomos nós todos contentes, cheios de esperança que o nosso processo ia já para reunião terapêutica. Mas mais uma vez a vida nos surpreendeu pela negativa. A médica disse-nos que com a doença genética que tenho, e como pode ser transmitida à descendência com um risco de 50 por cento, deveria era ter sido encaminhada para o Hospital do Porto, o único público no país que faz a escolha dos genes bons para que o nosso bebé não tenha a minha doença genética.

Sem possibilidade de irmos para o particular, o nosso mundo ficou sem chão pois voltámos para o fim de uma lista de espera. Como é possível numa luta de 7 anos que ninguém nos tenha dado essa informação?

Mas no caminho da infertilidade às vezes acontecem coisas boas. A nós, no dia 18 de abril de 2019, saiu-nos o Euromilhões sem jogar. Com a intenção de divulgar a nossa história, também a enviámos para a TVI. Qual não é o nosso espanto quando nos contactam para irmos ao programa “Você na TV” no dia 18 de Abril. Aqui começou um outro problema, porque o meu marido não queria ir à TV, em conjunto com a jornalista Cristiana Esteves conseguimos convencer o meu marido e lá fomos ao programa. E sem dúvida apareceu um anjo no nosso caminho, chamado Dr. Vladimiro Silva. A TVI, mais concretamente o apresentador do programa Manuel Luís Goucha, divulgou a nossa história e conseguiram que a clínica Ferticentro, em Coimbra, ficasse interessada em ajudar-nos a concretizar o nosso sonho. Um casal que vive durante 7 anos, acompanhado da infertilidade, que mais poderia pedir? Nesse dia eu e o meu marido nem acreditávamos no que se estava a passar, tudo parecia surreal.

Agora podemos dizer que, pouco tempo depois, tivemos a nossa primeira consulta na clinica e demos início a todo um processo de apoio a um casal com infertilidade à procura do tratamento mais adequado.

A clínica Ferticentro e os seus profissionais são de excelência e sentimos que todos juntos lutamos pelo mesmo objetivo: “Que a nossa cegonha encontre o GPS.”

Queremos agradecer à TVI, mais propriamente à jornalista Cristiana Esteves, ao apresentador do Você na TV Manuel Luís Goucha, à Ferticentro, em especial a toda a equipa dirigida pela Professora Isabel Torgal e ao Doutor Vladimiro Silva. Um agradecimento especial à Sandra Santos, Diretora de Marketing, pelo apoio e pelas palavras amigas de todos os dias.

Estamos eternamente gratos. Nunca conseguiremos pagar de algum modo todo o apoio, carinho e dedicação que nos tem sido dado por estes excelentes profissionais.

Luzia e Tiago Maia

(1) A Distrofia Miotónica de Steinert é uma doença genética caracterizada pela dificuldade em o portador relaxar os músculos após uma contração. Os músculos mais afetados são os da face, pescoço, mãos, pés e antebraços. As causas estão relacionadas com alterações genéticas presentes no cromossoma 19, sendo que estas podem aumentar de geração para geração, passando da mãe ou do pai para os filhos.