Bárbara Vicente, associada
O Fábio teve um tumor na cabeça do fémur (cancro) aos 14 anos. Não fazia a mínima ideia do que se estava a passar e o padrinho dele, que é médico obstetra e especialista em fertilidade, pediu para que adiassem a quimioterapia para poderem fazer a recolha de esperma para congelação, pois futuramente não conseguiria ter filhos sem esta opção, e assim o fizeram, ficaram 6 criotubos na Maternidade Alfredo da Costa.
Quando nos conhecemos jamais pensávamos que um dia teríamos de passar por isto, e quando marcamos na data do nosso casamento deixei de tomar contraceptivos, mas na condição se não acontecesse nada que só iriamos avançar para o médico depois da lua de mel, e assim foi.
Quando regressamos marcamos consulta na minha médica ginecologista, a Dra. Cátia Rodrigues, a qual solicitou uma série de exames a ambos. Quando o Fábio foi fazer o espermograma e quando recebemos os exames começou a confusão, pois não havia resultados. Ligámos para a clínica e informaram que não havia resultados porque não havia mesmo valores nenhuns. Aqui sim começaram as dúvidas e a ansiedade, falámos com a minha ginecologista e explicámos o que se tinha passado. A mesma encaminhou-nos para uma consulta de fertilidade no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
A primeira consulta no Santa Maria e a abertura do processo, foi tudo muito estranho, intenso e emotivo, pois viemos de lá a saber que iria ser um processo muito demorado, havia uma lista de espera de pelo menos um ano à nossa frente para começar o processo de fertilidade. Até lá eu tinha de fazer vários exames para saber se estava tudo dentro da normalidade para iniciar o tratamento e também era preciso fazer a transferência dos criotubos da Maternidade Alfredo da Costa para o Hospital Santa Maria, outro balde de água fria. O Fábio ligou para lá para saber como estava o ponto de situação, pois até aos 18 anos era a mãe dele que assinava os papéis, depois disso teria de ser ele, mas nunca o tinha feito. Ele ligou e disseram que já tinham descongelado o esperma mas que iam ver melhor e voltavam a ligar. Aquela espera foi horrível, mas felizmente tivemos sorte porque estavam no contentor 2 e tinham apenas descongelado até ao fim de contentor 1. Graças a Deus estavam guardados! Marcamos o transporte e nós mesmos fizemos o transporte dos criotubos. Foi um dia muito emocionante!
Após a primeira consulta em Agosto de 2012, depois dos exames todos feitos, fomos chamados em finais de Julho de 2013 para iniciarmos o 1º tratamento, tratamento esse que foi cancelado após 15 dias, pois o meu organismo respondia mal à medicação e fazia quistos nos ovários que não deixava crescer os óvulos. Depois desta situação tive de esperar que a menstruação viesse naturalmente e esperar que marcassem novo início de tratamento, o qual foi marcado em Março de 2013. Começámos, fizemos o processo FIV todo, descongelaram 1 criotubo e fizeram a punção dos meus óvulos, para fazerem o processo em laboratório. Disseram que se não ligassem teríamos de ir ao hospital fazer a colocação dos embriões no útero no dia seguinte e estava tudo bem ou se ligassem até as 08:30 é porque, mais uma vez, algo não tinha corrido bem e foi então que tudo desabou… ligaram às 08:28 e não tinha havido fecundação, por isso teríamos de voltar a fazer tudo de novo porque desta vez não tinha resultado. Ficámos muito mal psicologicamente, não sabíamos o que fazer, ponderávamos ir para o privado, porque agora teríamos de esperar mais 6 meses para iniciar novo tratamento e nada nos garantia que corresse bem.
Andávamos perdidos, até que fomos falar com o padrinho do Fábio que nos disse que estávamos super-bem acompanhados e não iria adiantar nada ir para o privado. Teríamos mesmo de fazer novamente outro ciclo e tínhamos de ter paciência, que tudo estava bem encaminhado. Até que no dia 16 de Setembro lá fomos nós dar início a mais um ciclo de tratamento, mas desta vez para não correr mais riscos, fizemos um medicamento novo na altura, experimental (Elonva). Tudo feito, desta vez houve fecundação e houve o transporte para o meu útero. Duas semanas mais tarde, análises e a melhor notícia das nossas vidas, íamos ter um bebé! A partir daí foi o realizar de um sonho, um milagre. Na consulta foi confirmado que era só um bebé, estava bem e saudável, tudo correu perfeitamente bem, mas ainda assim ele quis nascer mais cedo, nasceu de 33 semanas, mas tudo estava bem. Cresceu cá fora e hoje é um menino com 3 anos, saudável e lindo.
Com o nosso testemunho só queremos incentivar outros casais a nunca desistirem do vosso sonho, perguntem, informem-se, corram atrás, foi o que fizemos, sabemos que apesar de andarmos sempre preocupados com a situação também tivemos a sorte de encontrar uma excelente equipa médica no HSM e o padrinho do Fábio que foi, sem duvida nenhuma, uma mais valia, pois sempre que vínhamos de uma consulta, sempre que tínhamos uma duvida ligávamos, íamos ter com ele e estava sempre lá.
Adorávamos ter um segundo filho, dar um irmão ou irmã ao nosso Lourenço, mas sabemos que infelizmente no público já não podemos fazer, pois dão prioridade a casais sem filhos, o que achamos bem. No entanto, o nosso caso foi um problema de saúde e não temos outra forma de ter senão passando por tratamento FIV e recorrer a um privado é muito caro, não temos capacidade para isso, e a minha idade já começa a ser um problema… O que tiver de ser será, já termos o nosso menino é uma sorte, um milagre…