09 Jan. 2025
O que é e como funciona a indução da ovulação?

Joaquim Nunes, especialista em medicina da reprodução na Ovom Care Portugal
Para haver uma gravidez é necessário que um óvulo maduro seja fertilizado por um espermatozóide e que o embrião daí resultante se implante corretamente num endométrio recetivo.
Na natureza, o óvulo maduro é libertado ciclicamente pelo ovário da mulher, durante a sua vida reprodutiva, num processo designado por ovulação. A ovulação é, portanto, o processo natural em que o ovário liberta um óvulo maduro, pronto para ser fertilizado, durante o ciclo menstrual. Esse evento é fundamental para a reprodução humana e ocorre, geralmente, uma vez por ciclo, cerca de 14 dias antes do início da menstruação, em mulheres com ciclos regulares de 28 dias.
A ovulação é regulada por um complexo equilíbrio hormonal que inclui a estimulação do ovário por hormonas libertadas pela hipófise, designadas por gonadotrofinas (FSH e LH). Vários fatores podem afetar a ovulação como, por exemplo, a ausência de estimulação ovárica pelas gonadotrofinas, resistência do ovário à estimulação ou mesmo ausência de ovócitos nos ovários.
À ausência ou irregularidade da ovulação chama-se anovulação e é uma das principais causas de infertilidade. Contudo, esta pode, na maioria dos casos, ser tratada com intervenções médicas, como a indução de ovulação.
Perante uma suspeita de anovulação, habitualmente traduzida na clínica por amenorreia (ausência de menstruação) ou oligomenorreia (menstruações muito espaçadas no tempo), a primeira abordagem será confirmar essa mesma anovulação e tentar identificar a sua causa. Para isso, é extremamente importante uma história clínica bem colhida e alguns exames complementares, como doseamentos hormonais e ecografia pélvica.
Uma vez feita esta investigação, estaremos em condições de atuar medicamente de acordo com a causa, levando à restauração dos ciclos ovulatórios e corrigindo, em última análise, a infertilidade. Esse procedimento médico conhecido como indução de ovulação é amplamente utilizado na prática clínica, seja em contexto de obtenção de gravidez natural ou como parte de técnicas de procriação medicamente assistida (PMA).
Na base da indução da ovulação está a utilização de medicamentos que estimulam e/ou regulam o eixo hormonal anteriormente referido, ou o próprio ovário, no sentido de promover e/ou restaurar a maturação ovocitária (também designada por folicular) e a libertação periódica de óvulos maduros, capazes de fertilizar.
Em contexto de técnicas de PMA, recorre-se também à estimulação ovárica de forma semelhante, mas mais intensa, no sentido de promover uma hiperestimulação do ovário e, consequentemente, um recrutamento e amadurecimento de múltiplos ovócitos em simultâneo.
Os medicamentos usados na indução da ovulação podem, de forma grosseira, dividir-se em dois tipos:
- Os antiestrogénios, que se baseiam na promoção de um aumento da libertação de gonadotrofinas endógenas pela hipófise, são de mais fácil utilização pois podem ser administrados por via oral e são relativamente acessíveis em termos de preço.
- As gonadotrofinas, que estimulam diretamente o ovário, são de administração injetável obrigatória e de custo elevado e que se usam no caso de ausência de sucesso com os antiestrogénios ou nas situações de estimulação ovárica em contexto de técnicas de PMA.
Sendo o objetivo desta intervenção terapêutica a indução da ovulação e consequente resolução da infertilidade por esse fator, é importante referir eventuais riscos associados à sua utilização, sendo os principais:
- A gravidez múltipla e as suas implicações obstétricas, familiares, psicológicas e sociais, que resulta do amadurecimento e libertação de dois ou mais ovócitos maduros na sequência da estimulação ovárica.
- A síndrome de hiperestimulação ovárica (SHO), complicação resultante duma resposta exagerada dos ovários à estimulação, com recrutamento dum número exagerado de folículos e uma consequente cascata de eventos patológicos potencialmente muito graves. De referir que, graças aos cuidados médicos que referirei mais adiante, o SHO é hoje em dia uma complicação muito rara.
Ora, como em quase todas as intervenções médicas, a busca da eficácia é o principal motor da intervenção (neste caso medida pela correção da anovulação e em última análise da infertilidade), mas a segurança nunca poderá ser descurada.
No âmbito da segurança, a principal medida que tem que ser adotada, é a monitorização de todo e qualquer ciclo em que haja estimulação da ovulação, nomeadamente com recurso a gonadotrofinas. Esta monitorização é simples, faz-se recorrendo ao uso de ecografia pélvica com sonda vaginal e, eventualmente, com recurso a doseamentos hormonais. Com essa abordagem, os riscos referidos serão reduzidos para valores residuais.
Num contexto de PMA, outras medidas específicas poderão ser escolhidas e adotadas individualmente caso a caso no sentido de promover a máxima segurança e evitação de complicações.
Em conclusão, podemos dizer que a indução da ovulação é uma ferramenta essencial no âmbito da medicina reprodutiva, permitindo de forma relativamente simples, eficaz e segura a resolução duma percentagem significativa de caso de infertilidade. Contudo, é um procedimento que requer acompanhamento médico especializado de forma a maximizar o êxito e minimizando as complicações.