Rita Montezuma
Sou a Rita, uma especialista em marketing de detergentes sustentáveis. Quando não estou a criar verdadeiros anúncios de limpeza, a minha paixão pela fotografia leva-me a capturar momentos únicos de pessoas a aproveitarem a vida ao máximo.
Exercício físico? O meu corpo e eu nunca fomos os melhores amigos. Quer dizer, quem é que precisa de pesos quando se pode carregar o peso das expectativas alheias, certo? E, já agora, a minha ideia de correr sempre envolve uma linha de chegada com uma pizza ou um fantástico hambúrguer cheio de queijo à minha espera.
Aos 34 anos, o cansaço resolveu fazer um check-in na minha vida diária e eu, que costumava ter energia para dar e vender, comecei a sentir-me mais como uma pilha recarregada a meio gás. Mas não estava à espera do que vinha aí.
Em julho de 2017, fui realizar exames hormonais aos Hospitais da Universidade de Coimbra. Os valores das hormonas FSH (hormona folículo-estimulante) estavam a passear-se confortavelmente a 9.9, como turistas ingleses descontraídos no Algarve.
A LH (hormona luteinizante), essa, mantinha-se tranquila a 4.9, como um condutor que segue a estrada sem se desviar. O estradiol estava a flutuar alegremente a 17, como uma borboleta numa tarde de primavera.
Em novembro, as minhas hormonas resolveram fazer um espetáculo de luzes no palco das análises. A FSH decidiu dar um salto para um galáctico 75, como se tivesse bebido uma bica dupla e estivesse em modo turbo. E a LH, essa, não quis ficar atrás e fez uma escalada de 4.9 para uns estonteantes 36, como se estivesse numa missão espacial em direção às estrelas hormonais.
Quanto ao estradiol, esse decidiu brilhar como uma estrela de cinema, subindo de um modesto 17 para um impressionante 36, como se estivesse a preparar-se para a sua estreia nos Globos de Ouro hormonais.
Ninguém me avisou, porque a minha médica de família nem viu as análises, de que os meus níveis hormonais estavam a preparar uma festa surpresa.
Decidi ir rumo à Noruega e despedi-me da minha casinha. Deixei para trás um emprego que já fazia parte da mobília e até a gata me lançou um olhar de desaprovação quando a levei para casa da minha mãe.
Com um brilho de esperança nos olhos e uma mala cheia de sonhos, lá fui eu voar até à Noruega, pronta para viver o meu conto de fadas moderno para perto do meu namorado. Mas a realidade, a vida, tinha outros planos para mim. A pessoa que eu imaginava ser o meu parceiro romântico estava mais interessada no trabalho.
De regresso a Portugal, e solteira, entrei num flirt com um amigo de longa data. Ele era da área da saúde, super simpático e inteligente. E, assim, num passe mágico, o nosso flirt emocionante transformou-se num número de ilusionismo digno de Houdini — ele desapareceu. Por vezes, as pessoas desiludem-nos. De um momento para o outro param de responder ou perdem o interesse, como se enfrentassem problemas internos que os impedem de se envolverem. Isso cria-me uma sensação de incerteza constante, sempre na expectativa de algo mais, mas, por vezes, parece que é melhor não alimentar esperanças nem sentimentos, porque assim fico protegida contra desilusões. E aprendi a lição!
Entretanto, o período teimava em não aparecer, uns quilinhos extra instalaram-se e foi então que tomei a coragem de fazer o meu primeiro teste de gravidez. Por um lado, sentia que algo não estava a bater certo, mas, por outro, ainda segurava uma réstia de esperança de que tudo pudesse estar bem. E, por outro lado, persiste o desejo. Sonhar em estar grávida e imaginar que poderia ser mãe era uma sensação tão reconfortante como um abraço apertado num dia de inverno gelado. Só que não…
Dirigi-me ao centro de reprodução em Coimbra, com o coração na mão. A minha contagem de esperanças estava no vermelho, com a minha antimulleriana a rastejar aos 0.02, um valor que tornava a possibilidade de ser mãe praticamente impossível.
A análise da hormona antimülleriana (AMH) é vital no campo da medicina reprodutiva. Esta análise oferece uma visão precisa da reserva ovariana de uma mulher, sendo uma ferramenta valiosa para avaliar a sua fertilidade. É importante realçar que nem todos os hospitais incluem esta análise de forma rotineira nos seus procedimentos, sendo muitas vezes necessário solicitar expressamente a sua realização. E se eu tivesse sabido destes resultados mais cedo talvez a minha vida pudesse ter levado outro rumo.
A situação era tão dramática que os meus ovários pareciam ter entrado em greve como os comboios da CP, deixando-me sem uma única célula de ovulação. As lágrimas correram livremente durante dias e dias…
Para piorar a situação, a minha irmã, que tem uma diferença de dez anos, estava grávida. Um misto de emoções avassaladoras invadiu-me, deixando-me sem saber como reagir. Por um lado, a alegria transbordava ao pensar que ia ser tia, por outro, um sentimento de desolação crescia ao perceber que a maternidade me estava a escapar para sempre.
No meio de tudo isto, uma coisa ficou clara: a vida tem uma maneira misteriosa de nos desafiar e de nos mostrar que as nossas histórias não seguem sempre o guião que imaginamos. A maternidade pode assumir diversas formas, e talvez o meu papel de mãe esteja destinado a ser vivido de maneira diferente.
The show must go on, yeah
Inside my heart is breaking
My makeup may be flaking
But my smile, still, stays on…