Testemunho

20 Mar. 2025

Após 13 tratamentos, nasceu o nosso bebé arco-íris

Anabela e Luís

O nosso combate contra a infertilidade começou em 2016 quando, depois de casarmos, decidimos começar a tentar engravidar. Eu, Ângela, tinha 42 anos. O Luís, meu marido, tinha 38 anos.

O primeiro teste de gravidez positivo veio em agosto de 2017, mas infelizmente sofremos um aborto espontâneo. A esse seguiram-se mais dois, em outubro e dezembro de 2017, o que nos levou a consultar o Serviço Nacional de Saúde no Reino Unido (NHS), onde vivíamos na altura. Após vários exames, o caso era inconclusivo.

Em maio de 2018 decidimos procurar ajuda num centro de fertilidade no Porto, onde nos foi aconselhado fazer uma FIV, e alertado para o facto de, dada a nossa idade, haver uma probabilidade muito baixa de sucesso. Tentámos e transferimos dois embriões. Sem sucesso.

Esta experiência deixou-nos um "amargo de boca". Não só pelo resultado, mas também pelo processo. Tudo nos pareceu muito frio, impessoal, industrializado, enjeitado. Resolvemos então pesquisar mais sobre este tema da infertilidade e medicina de reprodução.

De regresso ao Reino Unido conseguimos mais uma gravidez natural, em agosto de 2019. Já referenciados, fomos acompanhados no Hospital de Guy's and St Thomas' desde as 6 semanas, com ecografias semanais. Infelizmente, na ecografia das 12 semanas, o bebé deixou de ter batimentos cardíacos. Mais um murro no estômago. Recusando um aborto provocado, tivemos 3 semanas à espera da expulsão do feto.

Aconselhados por um médico ginecologista experiente e com muitos anos de carreira, decidimos ir conhecer uma clínica de fertilidade em Coimbra, onde encontramos um ambiente muito diferente. Acolhedor, empático, muito focado nas nossas necessidades, dúvidas e preocupações.

Estávamos em julho de 2020 e começava aqui uma longa jornada de 4 anos, com 12 tratamentos ICSI e 9 transferências de embriões. Fomos sempre acompanhados pela diretora clínica da unidade que desde o início foi muito transparente connosco. A probabilidade de sucesso com óvulos próprios era ínfima e aconselhou fazer com doação de ovócitos.

O resultado positivo apareceu logo na segunda transferência, em dezembro de 2020, tinha eu 46 anos. Ficámos radiantes, mas uma hemorragia grande às 20 semanas de gravidez levou-me à urgência de Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra, onde fiquei internada 4 semanas até ao nosso primeiro filho, Luís António, nascer prematuro, com 24 semanas, no dia 5 maio de 2021. Infelizmente, 6 dias depois, faleceu na incubadora da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais.

Esta era provavelmente a altura mais difícil das nossas vidas. Mas não podíamos desistir. Queríamos muito ter um filho e vê-lo crescer. Continuámos a tentar, enquanto fazíamos o luto e combatíamos as nossas angústias. O Luís agarrou-se ao trabalho. Eu resolvi criar o projeto pro-bono "Por Amor Com Muito Amor" (colocar link https://www.instagram.com/poramorcommuitoamor/reels/ em "Por Amor Com Muito Amor"), em memória do Luís António, que não teve o que vestir no dia do funeral. Desde então dedico-me a tricotar e costurar roupas para grandes prematuros, que oferecemos a várias maternidades e hospitais do país.

Ao longo de 2 anos tivemos mais 9 tentativas sem sucesso. Até que em novembro de 2023 nos deparámos com a derradeira tentativa. Apesar de termos ainda vários embriões congelados, o facto de eu completar 50 anos em junho de 2024 impedia-nos, por lei, de tentar novamente.

Era a 13.ª e última tentativa. Tinha de ser desta. Tentámos tudo. Resolvemos até adotar um gatinho, chamado Ginger, que nos alegrou a casa e nos trouxe tranquilidade.

Uma pessoa familiar que também lutou contra a infertilidade recomendou-nos uma visita a um médico especialista em fertilidade no Porto, que se revelou absolutamente crucial. Transmitiu-nos uma positividade e confiança incríveis. Descobriu que eu sofria de adenomiose, recomendou um plano que se revelaria decisivo, trabalhou em colaboração com a diretora clínica que nos tinha acompanhado em Coimbra.

(Uma lição: não escondam aquilo por que estão a passar. Há muita gente, muito mais do que pensamos, que passa pelo mesmo, e a partilha de experiências pode desaguar em bons conselhos e recomendações. Foi o caso da recomendação de consultar em 2023 o médico no Porto).

Pouco antes do dia de Natal de 2023, o resultado veio positivo. A gravidez foi até muito tranquila, mas, na verdade, foi difícil desfrutar ao máximo, dados os medos e ansiedade provocados pelo nosso histórico, bem como as incontáveis visitas a médicos, hospitais, clínicas, testes, e exames, exigidos pelo risco desta gravidez. Nesta altura, foi muito importante o acompanhamento psicológico que tive na Maternidade Bissaya Barreto.

No dia 20 agosto 2024, com 40 semanas, os médicos não quiseram esperar mais. O parto foi induzido. Foi também muito complicado. O nosso filho teve de ser reanimado, mas tudo acabou bem. Alguns minutos depois, o nosso Luís André estava nos nossos braços. Saudável e perfeitinho.

Foram 8 anos de combate contra a infertilidade. 13 tratamentos, 10 transferências, 6 gravidezes, 4 abortos espontâneos, uma morte neonatal... Mas com a ajuda de bons profissionais, suporte de família e amigos, e com muita, mas mesmo muita, perseverança e determinação, tivemos um final feliz e temos o nosso bebé arco-íris em casa.

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