20 Mar. 2025
Não interessa como a nossa história vai acabar

Anabela e Carlos
No início, foi um choque e encolhi-me de medo, de culpa e de vergonha, mas depois levantei-me e, de cabeça erguida, assumi e enfrentei a realidade, tal como ela é, e segui em frente.
Ainda não sei como é que a nossa história vai acabar. Se terá um final feliz. Gostava de transmitir uma mensagem de esperança e de confiança, com um final feliz da nossa história.
Sinto que o caminho se faz caminhando, devagar, sem pressa, com momentos desafiantes, que testam a nossa capacidade e habilidade de nos reerguermos quando a dor e a desilusão nos deitam abaixo. Sinto que devemos seguir sempre o nosso coração, a nossa intuição e a nossa verdade.
Não vos vou falar de FIV’s e ICSI’s, da desilusão e da dor dos embriões não se desenvolverem e de não se implantarem, de não ter um positivo… da angústia e do desespero de não ter uma gravidez saudável, um bebé no colo e de ainda não ter ouvido as palavras “mãe” e “pai”.
Vou-vos falar daquilo que fiz para conseguir lidar com tudo isto e não cair no fundo de uma depressão. Eu procurei ajuda! Assumi a minha vulnerabilidade e verdade: que sozinha não seria capaz. As verdades doem, mas são fundamentais e libertadoras. Pedir ajuda não é para os fracos. Pedir ajuda é para os fortes, que têm a coragem e a ousadia de assumir as suas fragilidades, fraquezas, imperfeições e dores perante si próprios e perante os outros, enfrentando julgamentos e críticas, tantas vezes disfarçadas e escondidas.
Procurei uma “boa” psicóloga, para começar a fazer psicoterapia e encontrei o PBMI — Programa Baseado no Mindfulness para a Infertilidade, disponibilizado pela Associação Portuguesa de Fertilidade. Neste programa, e noutros que posteriormente segui e sigo, compreendi o real funcionamento da nossa mente e, desta forma, aprendi a lidar com os meus pensamentos, sentimentos e emoções. Acreditem! Isso fez toda a diferença! Sinto-me tão leve, tão tranquila, tão calma, tão confiante, tão capaz e em paz! É um caminho profundo de autodescoberta, de autoconhecimento e de desenvolvimento e aperfeiçoamento pessoal constantes. De expansão de consciência, de aprofundamento pessoal e de verticalidade do Ser. Mergulhamos bem no fundo de nós próprios e descobrimos o que realmente importa e a nossa verdadeira essência — o nosso Ser — que não é a nossa mente nem aquilo que ela diz. Renascemos e vemos a vida sob um prisma totalmente diferente. Apreciando e valorizando tudo o que já existe.
Neste programa conheci um grupo de mulheres incríveis com histórias inspiradoras e exemplares de resiliência, força, determinação e de coragem! Após o término do Programa, espontaneamente, criámos o nosso grupo de WhatsApp, no qual mantemos um contacto, quase diário, de profunda conexão, união, compreensão, respeito, carinho e de admiração mútua. É como um lugar “sagrado” de cura, de colo, de força, de confiança, de fé, de desabafo puro, sem julgamentos ou críticas, em que tudo é válido e aceite, em total compreensão e respeito. Em total compaixão.
O meu caminho está a ser caminhado a dois: eu e o Carlos caminhamos juntos há 17 anos e talvez nunca tenhamos estado tão firmes nos nossos passos, tão sólidos no nosso amor e tão unidos nas nossas mãos e corações. As adversidades da vida podem afastar ou unir o casal. No nosso caso, uniu-nos, talvez porque assim o escolhemos. De facto, os desafios da (in)fertilidade são um teste de força ao casal — trazem todo o tipo de sentimentos difíceis de assumir e de gerir, mas com amor, respeito e compreensão, tudo se ultrapassa e se resolve.
Não interessa como a nossa história vai acabar. Não interessa o passado, nem o futuro. O que interessa é o agora — o estar verdadeiramente presente, no Presente. E o melhor presente é estar presente. Neste momento, estamos presentes nesta caminhada para a fertilidade e sinto, dentro de mim, que vamos conseguir. Mas seja o que for, escolhemos viver felizes, cada momento da nossa vida, apreciando e valorizando tudo o que já temos. Se queremos gerar uma vida temos de estar verdadeiramente vivos e felizes com a nossa vida.
Simplesmente viver, ser e deixar fluir e acontecer.
O que tiver de ser, será.
Viver e confiar.
Acreditamos que tudo é possível. Caminhamos, em frente, com muita fé, amor e esperança.
Boas caminhadas!