Testemunho

22 Mar. 2025

Tantos nada e a força de continuar

Fotografia de Catarina Lomelino

Catarina Lomelino

O objetivo de sermos pais começou a ganhar forma quando marcámos casamento. Deixámos os contracetivos (um ano antes) e, a partir dessa altura, sabíamos que, a qualquer momento, podia surgir um bebé. Mas não surgiu.

Casámos em julho de 2022 e intensificámos as tentativas, controlando o ciclo menstrual e o período fértil. Foi divertido, mas nada de bebé.

Decidimos ir à consulta de fertilidade do hospital do Funchal. Para além de endometriose, foi diagnosticada baixa reserva ovárica e, a partir daí, foi como se ligassem um contrarrelógio. A nossa médica disse-nos logo que o melhor procedimento para o nosso caso seria a FIV, mas como não é feita ainda no Funchal, apesar de estar prometido pelo Governo Regional desde 2019, optámos por fazer um procedimento de inseminação artificial. Nada.

Uns ciclos depois, nova tentativa. Outra vez nada.

Como tínhamos disponibilidade financeira, decidimos ir a Lisboa, a uma clínica privada, fazer um ciclo FIV. A primeira tentativa foi em agosto de 2023. Conseguimos 5 óvulos. Dois fertilizaram. Transferimos um a fresco e congelamos o outro. Nada.

Em novembro, voltámos a Lisboa e transferimos o que estava congelado. Mais uma semana de espera. Outra vez nada.

Decidimos parar. As expetativas defraudadas estavam a consumir-nos.

Em março deste ano ganhámos forças e lançámo-nos em mais uma tentativa. Conseguimos 3 óvulos. Dois fecundaram, mas só um se desenvolveu. Transferimos. Finalmente um resultado positivo!

Ao fim de uma semana fizemos a análise beta e tínhamos um valor positivo, mas baixo. Pela primeira vez havia esperança. Mandaram-nos repetir o teste dois dias depois. O valor tinha de duplicar. Infelizmente baixou. Foi uma gravidez química.

Entre a desilusão de mais uma tentativa sem sucesso e o raio de esperança que tivemos com aquele teste positivo, decidimos tentar uma última vez. Mas, sobre essa, ainda não vos podemos contar grande coisa. Tem sido um percurso muito difícil, tanto em termos laborais, como de saúde mental. A mobilidade entre a ilha e a capital também cansam, não há o conforto do nosso lar. Ainda falta um longo caminho para normalizar a questão da fertilidade, falando abertamente sobre o tema e criando redes de maior apoio.

Testemunhos