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02 Jul. 2025

O mais importante é a qualidade alimentar e não a quantidade

Mariana Abecasis, Nutricionista

A infertilidade é um problema cada vez mais presente, que tem tido uma tendência crescente nos últimos anos, afetando cerca de 10% da população portuguesa. As causas apontadas são várias, podendo ser físicas, psicologias, hormonais… de origem feminina, masculina ou uma combinação de causas mistas.

Embora a idade da mulher seja um determinante da função reprodutiva, fatores como meio ambiente, excesso de peso ou obesidade, stress, estilo de vida e os hábitos alimentares parecem ter igualmente um papel impactante no que toca à fertilidade.

Sendo mesmo a alimentação considerada, nos dias de hoje, um dos fatores de risco modificáveis que mais afeta a função reprodutiva.

Assim, considera-se que as alterações alimentares e ter uma alimentação saudável e nutritiva, é uma das intervenções mais promissoras e benéficas na melhoria dos parâmetros da fertilidade, redução de infertilidade (por causas ovulatórias ou de qualidade dos espermatozóides) e melhoria do prognóstico dos tratamentos.

Claro que a alimentação por si só não tem o poder de garantir uma gravidez, mas pode e deve ser parte integrante do processo, porque um correto estado nutricional e ter um peso saudável no momento de engravidar, pode fazer toda a diferença para o sucesso e evolução da gravidez, bem como reduzir, em muito, possíveis complicações.

De uma forma simples e facilitadora, seguem alguns comportamentos que devem ser adotados quando falamos em saúde e fertilidade:
Garantir um peso saudável
Sabe-se que o baixo peso pode ter impacto na fertilidade e ciclos menstruais, mas o excesso de peso e a obesidade são igualmente prejudiciais e condicionantes. Devido às alterações e adaptações hormonais que ocorrem como consequência, quer o peso a menos, quer o peso a mais pode condicionar a fertilidade. Por isso fazer por ter um peso e composição corporal saudáveis é fundamental.

Equilibrar a alimentação de forma a manter uma glicemia estável e evitar a resistência à insulina

Sabe-se que o consumo elevado de hidratos de carbono (superior a 60% do valor energético total) e que a insulinorresistência, estão associados a um aumento do risco de infertilidade ovulatória. Nesse sentido, fazer uma alimentação moderada em hidratos de carbono, fracionar corretamente o seu consumo ao longo do dia e optar por hidratos de carbono complexos, ricos em fibra (ou seja, de baixo índice glicémico) é muito importante.

Fazer por ter uma dieta anti-inflamatória e rica em antioxidante
Os antioxidantes são fundamentais na proteção contra o stresse oxidativo e têm um efeito protetor das células do corpo lúteo e do epitélio do ovário.

Além de que algumas vitaminas, como as vitaminas C e D, estão envolvidas na produção das hormonas sexuais e regulação do sistema reprodutor feminino. Assim, no dia-a-dia normal devem ser evitados os alimentos processados e artificiais, que são pobres em nutrientes e têm uma ação inflamatória no organismo e devem ser privilegiados os alimentos reais – os chamados “alimentos vivos” – como os legumes e a fruta fresca, a carne e o peixe ao natural, os ovos, os cereais não refinados, o azeite, as leguminosas, os
tubérculos. Alimentos estes que realmente nutrem o corpo humano e que fornecem vitaminas e antioxidantes.

Garantir o aporte de ácidos gordos essenciais
Se por um lado as gorduras de má qualidade (como os ácidos gordos trans) estão associados a uma diminuição da fertilidade ovulatória, porque levam a um aumento da resistência à insulina, por outro, as gorduras “boas”, ricas em ácidos gordos essenciais, como o ómega 3, favorecem o bom funcionamento do organismo e do sistema reprodutivo. Assim a escolha de alimentos fontes de gorduras saudáveis é determinante. Boas opções são o azeite, as gorduras do peixe, os óleos provenientes das sementes e oleaginosas e o abacate.

Reduzir o mais possível o açúcar da alimentação!
Seja o açúcar de adição, as guloseimas, bolos, bolachas, snacks ou cereais açucarados… lembrar que o açúcar é um dos elementos com maior poder inflamatório no organismo, além de que o principal causador da resistência à insulina. A combinação perfeita para
reduzir a fertilidade.

Outros comportamentos importantes a ter em conta:
– Evitar os hábitos tabágicos
– Evitar o consumo de bebidas alcoólicas
– Limitar a cafeína. Restringir o consumo de café até 2 expressos por dia (lembrando sempre que o café não é o único fornecedor de cafeína, bebidas como chás, coca cola e ice tea são igualmente ricos em cafeína)
– Manter-se ativo! Fazer atividade física de forma regular é fundamental na saúde física e psicológica.

E fundamentalismos à parte, lembrar que o mais importante nesta fase é a qualidade alimentar e não a quantidade! Por isso basear a alimentação, o mais possível, em escolhas nutritivas e equilibradas pode ser a chave!

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