Artigo de Opinião

05 Dez. 2023

A infertilidade masculina

Nuno Louro

A infertilidade masculina define-se como infertilidade causada primariamente por fatores masculinos. Cerca de 15% dos casais sofrem de infertilidade, estando o fator masculino presente, isoladamente, em 20% dos casos e como cofator em 30-40% das situações.

Sendo assim, ambos os elementos do casal devem iniciar a avaliação médica simultaneamente. Em muitos casos não é possível identificar a causa da alteração da fertilidade, mas, em muitas situações, existe um problema que, se diagnosticado, pode ser tratado ou melhorado, pelo que todos os homens com infertilidade devem ser avaliados em consulta de Andrologia. Apesar de assistirmos a uma mudança franca de paradigma, ainda é frequente que as atenções se virem inicialmente para a mulher e, apenas mais tarde, para o homem.

Socialmente, a questão da fertilidade sempre foi vista maioritariamente como do foro feminino, mas, felizmente, este pensamento tem vindo a mudar e, cada vez mais, vemos casais que iniciam o estudo da infertilidade de forma simultânea. A maioria dos homens fica claramente afetada com este problema. Em primeiro lugar, é importante que percebam que não estão sozinhos. A presença de um fator masculino na infertilidade conjugal é muito frequente, mas não deixa de constituir uma surpresa quando é diagnosticado. A maioria não estaria a prever que o problema fosse deles, ou também deles, provavelmente porque socialmente continua a ser visto como um problema maioritariamente da mulher.

A sexualidade e a paternidade são dos pilares mais fortes em que assenta a ideia da masculinidade e, quando são abalados, todo o edifício fica em risco de ruir. É importante que percebam que ser infértil não os define como pessoa nem como homens e que é apenas uma condição médica que, juntos, tentarão ultrapassar. Os homens têm frequentemente alguma dificuldade em exprimir as suas dúvidas e emoções, muitas vezes porque sentem que têm que ser o elemento forte do casal, o que os impede de manifestar as suas angústias, tornando este percurso mais penoso.

Em última análise é um problema do casal e assim deve ser entendido, sem necessidade de atribuir culpas, e é juntos que devem percorrer o caminho da luta contra a infertilidade, com a maior tranquilidade possível, de forma que o desfecho, seja ele qual for, não coloque em risco o relacionamento conjugal ou a sua percepção como indivíduo e o seu lugar na família e na sociedade.

Este texto de opinião surge da colaboração entre o médico Nuno Louro e a Associação Portuguesa de Fertilidade.

Jornal de Notícias • 5 Dez. 2023
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