17 Nov. 2025
Há histórias em que “Era uma vez…” não basta
Patrícia Sarmento
Era uma vez…
Eram duas vezes…
Eram três vezes…
Foram muitas vezes, a somar tentativas de engravidar e a lidar com a frustração e a tristeza que surgia após cada uma mal-sucedida.
Perdemos a conta ao número de tentativas, exames e tratamentos hormonais.
Quando iniciámos os tratamentos hormonais no privado, a nossa médica sugeriu inscrevermo-nos desde logo no Serviço Nacional de Saúde. Findos 2 anos, como não nos chamaram, fizemos a primeira FIV no privado, ao abrigo do acordo com o SNS.
Lembro-me do dia exato: 14 de abril de 2014, faz precisamente hoje (dia em que escrevo este testemunho), 11 anos. Era também o dia de aniversário do meu irmão, por isso, só podia dar certo.
E deu! A primeira FIV foi certeira e a dobrar. E os nossos sonhos também!
Eram gémeas! De zero, passávamos a duas, assim, num ápice!
Infelizmente, já no segundo trimestre, o sonho terminou, após um internamento muito duro, de duas semanas na Maternidade Alfredo da Costa, que culminou numa interrupção de gravidez.
Ainda assim, a Sofia e a Diana fazem parte da nossa família e ensinaram-nos o quão inesperada e abrupta a vida pode ser.
Perdi o emprego na mesma altura.
Olhando para trás, não sei o que nos deu força para continuar.
Mas continuámos.
A segunda FIV foi no SNS e não foi bem-sucedida.
Decidimos não esperar pelo SNS e recorremos ao privado para a terceira FIV. Foi nessa altura, em 2015, que uma amiga nos falou da Associação Portuguesa de Fertilidade. Tornámo-nos associados e beneficiámos de um precioso desconto no tratamento.
A médica que nos atendeu foi uma das muitas que passaram por nós na consulta de infertilidade do Hospital de Santa Maria e que nos recordou, de uma forma bastante direta, que a próxima FIV no SNS seria a nossa última hipótese. Nos primeiros minutos da consulta, enquanto ela falava, lembro-me de pensar se pedia uma segunda médica para nos acompanhar neste processo. Acabei por decidir manter-me com ela, ao perceber que os resultados dos exames já realizados no SNS poderiam ser aproveitados, dispensando a realização de novos exames e mais tempo de espera.
A terceira FIV correu muito bem. Lembro-me da difícil decisão de transferir um ou dois embriões. O receio levou-me a optar por transferir apenas um e o meu marido apoiou-me nesta decisão.
A gravidez decorreu com muita ansiedade até à 23ª semana, data da interrupção da primeira gravidez. Tive novamente uma hemorragia no segundo trimestre, que me fez entrar no Hospital de Cascais num estado de pânico tal, que quebraram o protocolo e deixaram o meu marido entrar comigo numa área privada para grávidas. Felizmente, a hemorragia parou ao fim de uns dias.
A partir da 23ª semana, senti um alívio enorme e o final da gravidez foi vivido com muito maior otimismo.
Assim, no dia 14 de abril de 2016, no Hospital de Cascais, nasceu o Miguel!
Já me disseram que o nosso filho foi um presente do Universo. Não tenho qualquer dúvida em relação a isso!
Um presente feito com o nosso Amor e Persistência e com o inestimável contributo da Ciência e de todos os profissionais que se cruzaram connosco nesta jornada.
Hoje, o Miguel tem 9 anos e estamos todos de Parabéns!
Há histórias em que “Era uma vez…” não basta. Histórias mais longas do que o esperado. Essas, são as histórias que mais nos ensinam.