Um mundo completamente à parte

Uma viagem complicada, caminhos cheios de incertezas e cheios de espinhos e pedras que precisamos constantemente de retirar com cuidado.

Uma temática bastante complexa e profunda que precisa de ser mais trabalhada e falada nos nossos dias! Os nossos jovens não estão a par desta realidade.

Perceber a complexidade desta temática não é fácil. Nos dias de hoje achamos que ninguém tem ou passa por estas dificuldades.

Achávamos que isto seria bem mais fácil do que alguma vez imaginamos ou que havia muito menos casos de pessoas na mesma situação que nós! Desde o diagnóstico até ao processo, um mundo completamente à parte, de dor e caminhos tão íngremes de se fazer. Desde a parte financeira, onde não existe nenhum apoio ou o existente/inexistente tem filas de espera que não chegam a quase ninguém, e porque depois de certa idade, existe muito a ideia de que não se tem mais hipótese de ser mãe/pai. O Estado também não ajuda neste timing. Depois dos 42 já não tens hipóteses de requerer qualquer ajuda. Aliás, se quando o diagnóstico da infertilidade é realizado cedo as hipóteses são escassas, então com mais idade nem chegas a ser achado nem perdido em lado nenhum.

Não podíamos deixar de falar de outra coisa que consideramos importante e que consideramos um entrave a muitos casais. Os profissionais de saúde! Onde está a empatia, a perceção, a compreensão do paciente num todo? Por vezes somos tratados como meros números ou apenas como pessoas fora da norma para realizar este sonho. Quando nem conhecem a história por trás de cada um de nós.

A parte psicológica que te destrói/corrói e te mostra o teu pior lado é, também ela, uma componente sempre presente neste processo! Passar por tudo isto não é fácil!

Aos 43 anos de idade e passado um ano de tentativas, diagnóstico de infertilidade. Só por si a palavra já é sentida como um monstro! Como assim? Infertilidade? Não tenho ninguém na família com isto! Depois começas a tentar perceber mais e descobres que afinal existe e por mais remoto que pudesse ser, calhou-te a ti! Está cá! Sabemos que o fator idade também não é favorável e está presente, mas não tem de obrigatoriamente ser um grande entrave, com a sua devida estimulação.

Bem, três opiniões médicas diferentes para me convencer (a mim, mulher) e consciencializar que realmente era verdade e aceitar!

Ida para clínica, primeira estimulação falhada… Segunda estimulação, com poucas melhorias, uma carga enorme a nível hormonal que deixas de te conhecer. Punção = 1 óvulo apenas, onde não houve posteriormente fecundação. Mais frustração…  Sem falar da estimulação que é muito destrutiva fisicamente e psicologicamente.

E o casal? Como fica no meio disto tudo? Ou existe uma compreensão, empatia e respeito, ou então acaba por destruir também aquela conexão. E nesta fase não é fácil a compreensão, é importante conversar e expressar o que estamos a sentir. A maior frustração enquanto homem é ver o sofrimento da sua parceira, físico e psicológico, e não ter armas para aliviar essa dor, o que, aliado ao sofrimento interno que a incerteza deste processo provoca em nós, leva a momentos de tensão entre o casal que só mesmo o amor, a compreensão e a esperança façam com que a conexão que nos levou até aqui permaneça e se fortaleça.

Outra fase, aceitar que não pode ser com os teus próprios óvulos – recorrer à ovodoação – complexo, diferente e mais eficaz? Ou com mais hipóteses? Sempre com a palavra incerteza no meio para nos fazer sombra. Sempre com a incerteza a corroer o teu corpo e a tua mente!

Muita ansiedade, muitas lágrimas, baixa autoestima, falta de esperança, sentimento de injustiça e de falta de compreensão. Não te sentires compreendida por ninguém em diferentes fases que estamos a experienciar! Um turbilhão de sentimentos negativos difíceis de gerir!

Resultado: 8 óvulos! 3 fecundados!

No meio disto tudo passar também por duas cirurgias! Pólipos e miomas a dificultar o processo! Vários exames para ter a certeza que estava tudo bem com cada órgão do meu corpo.

Por fim, um embrião transferido… Passados 11 dias a notícia tão esperada: Estamos Grávidos! Sem palavras!

Neste momento estamos de 6 meses e muito felizes! Se voltávamos a realizar este processo difícil? Provavelmente sim! Quando queres muito concretizar um sonho vamos em frente! A persistência, a motivação, a insistência e a esperança são as palavras de ordem. Assim como o casal nunca se deixar consumir por todas as frustrações e falhas. Apoiem-se um ao outro, por mais difícil que seja perceber o que cada um sente ao longo do processo, serão sempre o maior apoio um do outro.

Não podemos deixar de ressaltar algo que também nos inquietou! Casais que estão neste processo há 10 ou mais anos… Sei que é difícil parar, mas acredito que existam também outras opções, como por exemplo a adoção. Nós ainda temos o processo a decorrer, pois quisemos ter sempre uma segunda opção!

E se decidirem parar, não se culpem, façam-no com a consciência tranquila de que fizeram tudo ao vosso alcance, mas a natureza assim não quis. Procurem um no outro a felicidade que vos trouxe até ao início desta jornada e façam a vossa caminhada de mãos dadas, seguros de que a felicidade termina aqui.